21 novembro 2009

abrigo em mim um monstro
e ele sim é dual
é ele quem ama e odeia
eu sou totalmente imparcial

se tiver algo a reclamar
se dirija direto a ele
cansei de passar recados
me sinto culpado também

não me responsabilizo
se ele está solto
como vou prendê-lo
se ele é mais forte que eu?

tanto me alivia saber
que sou só eu mesmo
e o monstro a mim pertence
quem comanda agora?

17 novembro 2009

estou reservado pro futuro, embalado pra presente
serei desembrulhado num futuro comovente
tal qual me calo num presente confuso
sem saber ao certo se sou o presente ou o embrulho

um mar de dúvida sem dor
incertezas com requicitos de horror
livre do passado e do futuro
sou todo presente obscuro

16 novembro 2009

por dentro a carne toda
está dilacerada
o coração, os pulmões, o rim
principalmente o estômago
(além do fígado e do intestino)
se juntaram todos
como numa vitamina feita
num liquidificador


e toda a minha dor
fica liquidificada dentro
de mim
os orgãos todos se tornaram
um líquido bebível
que ninguém ousa experimentar


minha dor é liquida
e por assim ser
é livre pra fluir
em todo o meu corpo
em toda a minha existência
mesmo na minha própria ausência

15 novembro 2009

não quero comer nada
quero comer a mim mesmo
comer todas as minhas lembranças
e obrigar a memória a ajudar a digerir

vou digerir a mim mesmo
cada pedacinho de carne
que contém uma parte de um falso eu
e de um verdadeiro você
[de um falso amor e de um verdadeiro sentimento]

e vou digerindo tudo isso
muito mal digerido, é verdade
mas comendo a mim mesmo
vou conseguir esquecer você
uma enorme distância
é facilmente superada
sem motivo aparente
só por ser ela mesma, enorme

uma pequena distância
já é mais complicado
a ansiedade é inevitável
com tão tênue aproximação

mas quando se acredita haver
uma pequena distância
quando na verdade é enorme
é dolorosamente insuportável (ou insuportavelmente doloroso)

12 novembro 2009

não quero música
(na verdade eu não quero nada)
não quero ócio
nem diversão
nem marmelada
(na verdade eu não quero nada)
o marrom glacê
que outrora me causou vontade
hoje me parece trivialidade
quem dera eu soubesse o gosto
da batata doce nua e crua

não quero sentir tesão
não quero me meter em confusão
(na verdade eu não quero nada)
a marrom glacê
até me despertou certa vontade
mas hoje eu não quero nem ela
(na verdade eu não quero nada)