28 dezembro 2010

a.ave.voadora

a ave voa


voa
ave


voa
voa


ave
voa
  ave
  voa
    ave
    voa
      a


ave voa
pra longe
daqui

24 dezembro 2010

Natal Irracional

Em pleno Natal
no meio da ceia
veio a pergunta derradeira:
- Mãe,
do que é feito o peru?

A resposta veio tímida
e sincera:
- De carne e osso,
como nós,
minha filha...

Mas a menina não se deu por satisfeita:
-Mas quem é
que faz
a carne
e o osso?

Em princípio de lágrimas,
veio a reposta:
- As mães,
como eu,
minha filha...

23 dezembro 2010

vidinha barata

por pouco
muito pouco
mas muito pouco
muito muito muito pouco
mesmo
(bem pouco)

por esse pouco
entreguei minha vida

por menos ainda
escrevo agora

por menos
muito menos
mas muito menos
mesmo
comprei de volta
minha vida fútil

10 dezembro 2010

admiro?

admiro
(admiração profunda)
os altruístas sem medo
os moralistas sem causa
os nudistas de sunga
os modistas de televisão
os alienados assumidos
e
os conservadores convictos

(desconsidere os últimos 5)

05 dezembro 2010

automática-mente

esqueci os pontos
as vírgulas
a grafia correta
a letra de mão
a interrogação
esqueci até meu nome
mas nunca a senha
do computador

30 novembro 2010

28 novembro 2010

27 novembro 2010

amor de mentirinha

meu amor é limitado,
eu amo, mas amo errado.
porque meu amor
é só pra alguns,
se amo Totó
como mimosa
se me engraço com Baby
como seu pai
passarinho lindinho
comi seu priminho
mas como sem dó.
minha alienação
ama por mim.

24 novembro 2010

Poeta paralisado, Poema incompleto

Se me dispersei
é porque olhava admirado
olhava admirado
admirado olhava

O pescoço, pra mim,
era uma palavra:
imensidão
(retifico-me: teu pescoço)

...

19 novembro 2010

fundo

fundo
cada vez mais
fundo
indo sempre
fundo
buscando algo pro-
fundo
sem cair no
fundo
do poço.

16 novembro 2010

Homens trabalhando

Homens trabalhando a 200 metros
Homens trabalhando a 50 metros
Homens trabalhando o dia inteiro
Homens trabalhando a vida inteira

40m
30m
20m
10m

o dia acabou
a vida passou

12 novembro 2010

nesse louco mundo

te olham no olho
te dizem obrigado
há algo de errado
há algo de errado

te dão atenção
sem nada trocado
há algo de errado
há algo de errado

no mundo febril
não cabe esse agir
não tem mais amor
não tem mais amor

(e onde é que se perdeu?)

não se perde o que nunca teve
não se pacifica onde não há guerra
não se purifica sem a imundice
não se fala não se sem ter um porque

(porque?)

porque o mundo é sujo
e se me olhas assim
algo quer de mim
e se algo quer de mim
o que tenho que dar-te?

dê a mim
só a intenção
sincera
do amar
sem paixão

28 outubro 2010

barquinho estalado

O barquinho arredondado descia pelo leito do rio, seguindo sua leve correnteza, quando foi pego, de surpresa, pela estranha estreiteza. Emperrado, o barquinho parou, assustado, o viajante fitou; a sua volta apenas o branco do papel em que tudo era desenhado. O desenho estava todo errado, não era pra entalar o pobre coitado! Mas o desenhista, esperto que era, queria mesmo é fugir do enlatado. Tentou surpreender a todos com um leito fininho e um barco gordão, mas o desenho não lhe rendeu nem um pedaço de pão. 

Poemeto do serial killer da Mata preservada.

te mato
no mato
apenas por prazer

um ato
nefasto
que ninguém quer ver

mas veja, querida
eu sou um animal!
o seu mal é o meu bem
e o seu bem é o meu mal!

18 outubro 2010

Minha primeira canção punk

ratos de porão
ratos de laboratório

todos estão na merda.
todos estão na merda! (voz bem fina)

ratos bem cuidados
dentro de gaiolas
ratos maltratados
nos porões de escolas

todos estão na merda.
todos estão na merda.
todos estão na merda!
todos estão na merda! (voz bem rasgada)

(arroto final)

16 outubro 2010

o toque

falou-me de saudade
fingi não entender

amou-me com o olhar
fingi não perceber

abraçou-me em pensamento
fingi não corresponder

tocou-me em alguns poucos átomos
fingi? não, não consegui fingir mais nada...

08 outubro 2010

Dinheiro

Dinheiro é feito de papel -
vale mais que o azul do céu
pro poeta que passa fome.

Dinheiro é feito de papel -
vale um pedaço do céu
vendido na igrejinha sem nome.

Pedaço de papel
que compra mel
que compra véu
que compra anel
que compra gel
que compra farnel

Que corrompe coronel!

30 setembro 2010

demasiado humano

de tão humano
de tão humano
(tanto quanto nega tal fato
óbvio)

aprecia o contato
- o tato, o olfato -
entre 2 seres
humanos

(humano
é tão humano
que não percebe que o ser
humano
é que lhe da razão pra ser
humano)

só percebe sentido
no atrito humano
por mais que negue que o atrito
seja de fato, humano

mas é,
demasiado humano (o atrito)
demasiado humano (o dito)
demasiado humano (2 seres?)

27 setembro 2010

beleza?

"Um dia a beleza vai salvar o mundo" Dostoiévski


o mundo é sujo
o mundo é feio
o mundo é morte

o que garante que a estética não seja só minha percepção?

desespero
horror
tensão
feiúra
(pura
pra todos)

uma vida feia não vale.

25 setembro 2010

num tempo belo

houve um tempo
em que tudo era belo

as pessoas eram belas
as coisas eram belas
as construções eram belas
(as contradições também)

...
as funções eram bela
(as discussões também)

...
os amores eram belos
os amantes eram belos


nesse tempo até
a informação era bela
e a gnosi louvada.

desse tempo
só duas coisas permaneceram iguais
as plantas e os animais.


[doces lembranças de outro planeta]
[doces lembranças da harmonia perdida]

22 setembro 2010

Poema estéril

O que leva alguém a adotar um filho?
Não vejo nada que justifique
pegar pronto
o que é tão bom de fazer!


[ironia suave e consoladora de um estéril]

07 setembro 2010

Peço que se despeça

Peço que se despeça
com:

- crueldade sutil
- leveza de menina casta
- ironia de vagabunda pagã
- sutileza viril
- avareza de carícias sensíveis
- sentimentos escondidos

e, acima de tudo
com:

- esperteza de quem sabe que voltará.

03 setembro 2010

Poema incompleto sobre pétalas

Pétala
tão nua, tão crua
repousa na paisagem
que minha visão vê

A pétala
se insinua profana
a quem quer que passe
a contemplar

Aperta lá
que chegou a hora
de pagar
pra ver

...

30 agosto 2010

despe(r)dida

a despedida
é um estica do peito
que estica
estica
estica
até doer,
mesmo sem romper.

e quando o romper é impossível
o estica é (quase) infinito
e a dor também.

sorte que toda despedida
(que estica, estica, estica...)
é tão elástica
elástica
elástica
que quando chega no limite
volta.

19 agosto 2010

papilas

e seu eu lamber
a pele
suada
pós
fornicação?

negarei
o gosto esfacelado
cansado
embriagado
de prazer?

sentirei a volúpia
do outro corpo
pelas
papilas
gustativas?

figurarei
no quadro
de valores
pré
estabelecidos!

17 agosto 2010

uma vida passando

Andou por caminhos ruidosos - daqueles que cheiravam forte a zinco (mesmo sem saber qual o cheiro prático de zinco) - em busca de objetivos duvidoso - daqueles que não parecem tornar-se algo consideravelmente satisfatório (mesmo que o conceito seja mal empregado, ou impregnado) - que no fim não passariam - os caminhos - de um passatempo inútil que todos os viventes com data marcada pro fim tem que atravessar, mesmo que o drama e a literatura (as vezes juntos) dêem algum prazer a este - o infame passar da vida - ...

08 agosto 2010

poemal

Se achava o tal
Perdeu-se procurando um ideal
Considerou isso mais real
Tornou-se um ser abissal

Mais um vivente acidental [ponto final]

02 agosto 2010

Do que vi na insanidade do mundo...

Porque seguram? Porque levam?
Porque tão grandes?

Me escutem, me escutem, me escutem!
Me deixem abraçá-lo, me deixem segurá-lo aqui
comigo.
Não levem!
PORQUE? PORQUE?

Porque perturbam? Porque tiram minha paz?
Devolve, devolve, devolve!
NÃO LEVA! PARA!

PORQUE?

porque?

Porque os gigantes estão o tirando de mim?

Me deixem abraçá-lo, mais uma vez, uma vez...
uma ultima vez...
UMA ULTIMA VEZ!!!
PORQUE NÃO?

uma última vez, pelo menos...

31 julho 2010

Apenas presente

O tempo passa
mas eu existo
em cada momento

Sobre ser estranho humano

Diante da inegável apatia em ser humano

(o mesmo humano que fere,
que mata,
que chuta,
que destrói
e deixa vazio)

Me resta uma opção pouco inovadora: brindar!

(um brinde ao horror dos pensamentos obscuros de todos,
ao horror do meu julgamento injusto,
aos desejos incessantes das almas doentias -
inclusive a minha - e
a arte de viver pra poder pensar, ou vice e versa)

Bravo!

27 julho 2010

o santo responde

o santo
manso
me canso
de olhar

peço, e peço, e peço
e continuo a pecar

o santo
ali parado olhando pra mim

pedindo (mudanças)
e questionando
minha maneira
de ser

o santo
mais me cobra
quanto mais
peço

o santo me diz: não peça, ma(i)s faça.

24 julho 2010

Poema sujo de carência sexual

Só ligo para aparência

não vejo a essência
não meço consequência
não exijo decência
não busco aderência

Quero acabar com minha abstinência
com a sua assistência
mesmo que seja por benevolência

Talvez seja carência
explicada pela ciência
como um problema de convivência

não ligo para desinteligência
não procuro equivalência
não tenho decência
esnobo a existência

Só me resta a convergência

22 julho 2010

não, comigo não

vem comigo

não há perigo
nem castigo

não cutuco o umbigo


.

te dou abrigo


realizo sonho antigo
o passado não investigo

se ir embora não ligo
se pedir eu prossigo


...
mas não garanto nada!

17 julho 2010

16 julho 2010

Que meu sorriso

Que meu sorriso
cubra os desabrigados,
alimente os famintos,
alerte os desavisados.

Que provoque
um engano maior
do que viver em vão.

Que mostre
caminho melhor
do que o da multidão.

Que meu sorriso
ensine os ignorantes,
limite os abundantes,
acolha os agonizantes.

Que seja
algo marcante
na sua passagem.

Que liberte
todo seu potencial
de criatividade.

Que meu sorriso,
enfim,
faça você sorrir
também.

14 julho 2010

Amarga distância

Tão dura a vida é
quando vivida - se vivê-la - na distância.

Porque a vida foi feita pra se viver juntinho
tudo bem devagarinho
com os devidos pingos nos is.

É amargo o tempo em que se está longe,
com abismo infinito entre as partes
que se completam.

Porque o relativismo do tempo
está na pressa dos momentos bons
e na eternidade dos perfeitos.

E nada importará quando
a vida for vivida por si só.

11 julho 2010

Fé?

Se acendes uma vela na mesa
pode achar, com total estranheza
que ela irá apaziguar tua alma.

Doce engano de um homem crente
que ao ver um mundo doente
ora pela própria calma.

Não percebes que a vela é a tua fuga
e que pedir é um comportamento sanguessuga?
Talvez estejas cego pra ver
que o que temes é o não crer
e que o giro do mundo
é algo muito mais profundo.

E tudo vira pó...

Não sabia porque tudo acontecia...
queria saber mas não podia.

E se não podia motivo tinha que ter
pois mesmo sem saber
a vida ia levar-lhe a vencida.

Ia descobrir que não é toda colorida,
perceber que os sonhos
terminam sempre em pó
e que as dores de um mundo medonho
não lhe provocam nenhuma dó.

05 julho 2010

Momento

As vezes em só momento
- que dura toda por toda eternidade -
percebo que o vento
parou de me empurrar.

Resolveu atazanar um outro qualquer
que não estava contemplando
tal olhar.

Cada pedaço de emoção demonstrada
em cada pedaço de ação
projetada por almas
com profundo desejo de união.

E a perna que treme
não diz menos que o olho que foge
querendo ficar.

A pele sente e transmiti
todo desejo
pulsante
de continuar.

Os sinais são claros e discretos,
a ordem dos fatos é alterada
pelo tempo que não mais passa.

E o aperto no peito
da incerteza compulsória
do ato que está por vir
se perde no sentir do momento, sem medo.

02 julho 2010

lance

é um lance
se pá romance
não sei se está ao meu alcance

te vejo de relance
sempre em nuance
talvez você se arromance

quero que dance
que contrabalance
quem sabe até que avance

confio mais em mim mesmo
do que no medo
de você

30 junho 2010

Poema ruim, mas verdadeiro

Duas da madrugada
acordo com o celular tocando.
Mas me enganei, ele não tocou,
na verdade nada aconteceu.

Ligo o rádio baixinho:
"eu sei que vou te amar
por toda a minha" VIDA
EU SEI QUE VOU
"te amar".

Troco de estação sem parar em nenhuma,
deixo que elas me escolham;
fui escolhido!
"tudo que deus criou foi pensando"
EM VOCÊ!
"fez a via láctea fez"
OS DINOSSAUROS.

Quer saber se eu quero outra vida?
Sempre!

28 junho 2010

Processos, movimentos, relativismo

Nada, nem ninguém, é ou não é centro,
é apenas fruto de um processo em movimento.

No social, e no mundo, nada é;
tudo torna-se ou deixa de ser
apenas nota de rodapé.

Quando todos sabem de nada,
nenhuma ignorância faz aborrecer
e nenhuma vida pode ser abalada.

É mais do que a questão de fora e dentro,
envolve toda a vida em apenas um momento.

17 junho 2010

Fluindo?

Não sei se sou
mas de fato estou
fluido, fluido, fluido.

O ritmo alucinante
do mundo a minha volta:
fluidez, fluidez, fluidez.

Simples lógica capitalista,
complexa vida humana.
A lógica é ilógica num olhar mais demorado.
Em escala diminuta, a dor não é fluida.
Não me venham com modernidade líquida
ainda sou o mesmo ser humano sólido
de vida passageira
e momentos
eternos...

14 junho 2010

A brisa

Sente a brisa que passa...

Há quem diga que é só um vento.
E porque então traz o aroma
sutil
das lembranças guardadas no peito?

Amores só são velhos
quando esquecidos.
São eternos em cada momento,
mesmo quando levados pelo vento.

E lá se foi a brisa...

21 maio 2010

A mão que escreve e vive

O frio, a luva, a mão fria.
Se dá ao luxo de ser fria por ter a luva,
Se não tivesse, teria que se esquentar.
Mas tem, e continua fria.
Inútil luva!

Se eles soubessem o desconforto
Do frio constante
Me olhariam de outra forma,
Talvez mais apoiadora.
Talvez não!

Morrer de frio é impossível!
Dito de que não o conhece.
Tão mortal quanto qualquer tal
Que se atreve a tirar a vida em massa.
Sem razão!

Escrever esquenta a mão.
Mais eficaz que a luva,
Porém mais doloroso.
Que angústia escrever e lembrar das dores humanas.
Inútil luta!

19 maio 2010

Sabe
as vezes acho que não sei escrever
alguém deve estar escrevendo
por mim
os dedos fazem tudo sozinho, praticamente

Viu
mas fingiu que não
achou melhor guardar pra si
o que era escancarado
coitado

Então
já me arrasto no mundo
pra viver
"tão cedo ainda"
diz a velhinha observando, de fora

Tchau
(se ela soubesse
o quanto sou tão
carinhoso
não fugirias mais de mim)

04 maio 2010

A lua sorriu.
Viu,
sabia que ela ia voltar.
Ela sempre volta
e sorri
pra mim.

Porque pra mim?
Porque assim?
Um sorriso verdadeiro
não se escolhe
e nem encolhe.
Voa, voa voa!

02 maio 2010

meia hora, uma hora
ou vários dias
não sei,
ainda não entendi,
a lógica do tempo.
e nem quero!

é bom ter algo acima
de nós.
acalma
a alma
e a vida
passa.

21 abril 2010

talvez não,
mas
não mais.
alguma chance
por fim será
a última.
e o passado
não voltará.

sem prazer.

18 abril 2010

Esse seu jeitinho de olhar
E esse meu jeito de sorrir
É como fogo e ar
Em eterna combustão

Dificil missão
De quem veio ao mundo pra amar

Somos como a brisa e o mar
Só nos existe o litoral
O centro é céu e inferno
O centro é tudo e nada

Infundada ânsia de viver
Se é isso apenas que nos resta

17 abril 2010

Me iludi!
E o fiz com total sabedoria.
Sabia dos riscos, e arrisquei.
Não hesitei em desejar,
Mesmo sabendo da decepção.

Não há mal nenhum em criar expectativas.
O mal reside eu não aprender (nunca) com as decepções.

O que há de errado em viver a vida?
O errado é que ela gasta,
A cada minuto ela passa, e passa...
E volta?
Não, não volta.

Não há mal nenhum em gastar a vida.
Mas viver é, de fato, desgastante.

16 abril 2010

Tive que me expremer
Pra conseguir exprimir
Tamanho sentimento.

E ainda assim não consegui.
Falhei, mais uma vez falhei.
As expressões sempre falham
Ao exemplificar os sentimentos.

É aperto no peito,
É chuva, sol e vento.
Só me resta o desamasso.

11 abril 2010

Me entorpeço ao som de Moacir Santos.
O mau da minha geração
É considerar, e acreditar, que caminhos paralelos
Levam a destinos diferentes.

Me enterpeço mais, ao som de Cartola.
Sinto-me astuto, algo mais.
O feio vira belo, o nada vira algo.
A mentira, essa sim, continua a mesma.

Hipocrisia reinante;
O tempo passando pelo puro prazer de passar.
A inércia, o nada.
E ainda acreditamos ser algo!

Que decepção essa minha geração,
Acham mesmo que plantar uma árvore adianta?
Caminhos paralelos não se cruzam,
Mas também nunca se desviam.

Aguardo o meu final (in) feliz.

09 abril 2010

Tempo, momento, vento.
E tudo se foi,
Tudo sempre se vai.
As coisas passam e o observador fica.
Será que esse sou eu?

Só o eterno é real!
Serei eu irreal?
A tênue linha divisória,
Entre a sanidade e a loucura,
Uso como lençol.
Me finjo de morto e me escondo embaixo.
Ninguém incomoda os mortos.

Me deixem em paz!
Minhas mudanças eu mesmo promovo.
Se me movo, tem um porque.
Nada que faço é sem motivo,
Mas muita coisa é sem razão.

O morto não observa;
E se não vê, nada existe.
Nada passa, nem o tempo.
O morto é eterno!
E que conforto esconde embaixo do lençol!
Ninguém passa pela vida sem pensar na morte,
Ninguém passa pela morte e volta pra contar...

07 abril 2010

Momentos, paixões
Acontecimentos eternamente finitos
Infinitamente passageiros
Considerei como vida a sua própria negação
Acreditei ser real o que um dia morre

Continuação, esfacelação
A comilança do presente o tempo todo
E o passado, pura digestão
Como um cachorro, me pego a frente do forno
Esperando o futuro me trazer o prato principal

A morte
Esse é o prato principal de nossas vidas
Sugiro, de coração, que comam a sobremesa antes
O medo de uma vida falha
O meu medo

Me entorpeço fingindo não estar no agora
Fujo, fujo, fujo, posso fugir
Quero ver quem me perseguirá
Se vierem, eu agradeço
Corro sem nenhum destino

O nada é meu rumo
Não sou nada, sou rumo pra sê-lo
Percorre esse longo caminho sem volta
Nunca há volta
Apenas, talvez, a vida

Me encerro em meus pensamentos
Sou anti-vida, sou pensador
Doce ilusão a felicidade pra quem pensa
amargo o gosto da consciência
Se nada vale a pena, eu rumo

Rumemos!

05 abril 2010

Não adiantam as palavras.
O mais belo poema não bastaria,
Nem sequer uma prosa longa.
O seu sorriso é muito mais.

Ao vê-lo, também sorrio.
E estagno assim, mente vazia,
Pura contemplação.
O seu sorriso é ainda mais.

Não sei como é o mundo a sua volta.
Você preenche todo o campo da visão,
Nada mais existe ao te ver.
O seu sorriso é infinito.

E agora o pensamento se forma
Com uma só imagem,
Que já me basta pra viver.
O seu sorriso é!

23 março 2010

Em verdade tenho apenas medos,
nada mais me pertence.
Isso porque não sei viver o presente,
e me guardo aos desagrados do passado
os imaginando em meu futuro.

Não seria isso medo?

E cada coisa que vejo com meus olhos,
sinto de imediato algo no estômago.
Não importa se é bom ou ruim,
pois remate a um passado que não mais volta,
povocando imensa sensação de impotência.

De nada me valhe o passado!
De nada me valhe o estômago!
E muito menos o sentimento.
Me pego sempre em um profundo apego,
certo de que isso está errado.
incerto de minha própria certeza.

Já me dói o estômago,
melhor parar...

21 março 2010

Secretamente sigo todos os seus sentimentos,
Fico atento as suas mudanças de humor,
Sempre à distância.

Só os amores impossíveis é que me atraem.
Secretos, como um segredo escondido de mim mesmo,
Que eu insisto em não desvendar.

Nada declarado é romântico.
Nada previsto vale a pena.
Pura inconclusão de quem não sabe se sabe amar.

E se sei? Como vou explicar?
Se não sei, como fingir te querer?
Não quero nada além do meu amor impossível.

19 março 2010

Não há poesia sem dor,
Não há poeta sem sofrimento.
Se houver, afirmo que mente!
O poeta que escreve sem dor
É apenas um ser sem coragem de enfrenta-lá.
Não é poeta, apenas diz.
Não faz poesias, apenas escreve.

Tem que se ir a fundo,
Cada vez mais fundo, bem profundo.
Mergulhar na imensidão do sofrimento.
Saborear o sufoco da dor.
Se quiser aspirar a ser, poeta.

E por meus medos,
Ainda não mergulho.
Se sou poeta, sou poeta superficial!

E quem tira-me o posto?

11 março 2010

O canto e a música de fundo.
Mas não é qualquer canto, é o canto da parede!

O vértice, a musica de fundo.
Momento único!

Três linhas se encontrando,
E acumulando pó.
A convergência de linhas finitas gera pó, inevitavelmente.
A convergência de vidas finitas gera pó!

Não mecho no pó,
Não falto com o respeito.
Pó é pó, e eu sou nada.
Apenas aprecio a música de fundo...

27 fevereiro 2010

Um dia feliz, um dia triste.
Esse é o meu destino,
Um dia feliz, um dia triste.

Independe de companhia, de amizades, de amores e paixões
Independe de sonhos, desejos ou aspirações,
Um dia feliz, um dia triste.

É esse meu estado de equilibrio.
É como uma onda,
Imperdoavelmente sobe e desce.

Um dia feliz, um dia triste.
Será que morrerei no feliz?
Ou será que morrerei no triste?

25 fevereiro 2010

Ah, a felicidade... a alegria de viver!
Mas a alegria do presente,
Mesmo com um passado ruim,
Mesmo com um futuro incerto.

A alegria de um presente,
Mesmo que ruim, mesmo que incerto.
A vida ruim e incerta,
Mesmo que tenha sido um presente.

Ah, a vida... a alegria do presente!
A vida do agora,
Não a que passou,
Não a que está por vir.

O agora é a minha vida.
Tenho mais o agora do que ela própria,
Me pertence mais do que eu a mim mesmo;
Mesmo que seja apenas por um momento.

22 fevereiro 2010

Não sei se vivo
Não sei se sonho
Não sei se preciso viver pra sonhar,
Não sei se preciso do sonho pra viver.

Apenas aconteço
E vou me acontecendo a cada momento.
Apenas desfaço-me do presente
E vou tecendo um futuro ilusório.

Fácil não é, e
Fácil ninguém disse que seria, mas
Facilmente me engano sobre a vida,
Facilmente me engano sobre mim.

Seguindo sempre rumo ao incerto,
Deixando apenas que o tempo passe.
Seguindo sempre indiferente,
Deixando apenas algumas palavras.

Um fato. Fatos.

20 fevereiro 2010

Quero uma mulher!
Mas quero uma mulher muda,
Que nada fale e que muito escute.

Que me escute sobre minhas alucinações,
Sobre minhas besteiras infundadas.
Mas que me deixe só quando eu falar de amor,
Reconhecendo logo a cafonisse.

Que ouça com paciência e desdém,
Fingindo interesse falso e destemido,
As minhas poesias mais longas.

Quero uma mulher muda!
Que não seja poeta,
Que nada fala mas que muito diz,
Que muito olha e pouca faz.

Que apenas por ser já se completa,
Deixando a mim apenas o vazio
Pra completar com minhas palavras pobres.

19 fevereiro 2010

Segue o prato vazio na mesa,
Segue o desespero e a dor.

Segue o alvoroço na chuva,
Segue a oração com fervor.

Segue a lembrança longinqua,
Segue o ódio e o rancor.

Segue a esperança infundada,
Segue a crença no amor.

15 fevereiro 2010

Está quente demais.
Está tudo muito quente a minha volta;
Mas isso não ocorre senão por um único motivo,
Estou frio.

Estou frio demais,
E por isso é tudo tão quente.
Percebe a lógica?
Tão óbvio!

Não ligo,
Deixo o calor me intorpecer,
E caiu num delicioso sono,
Como que renunciando à própria vida.

14 fevereiro 2010

Não sei se posso controlar meus instintos selvagens.
Na verdade posso, mas falsamente.
Só os controlo por fora, pra que ninguém os veja, pois
Por dentro eles estão me dominando,
Me controlando,
Me sufocando,
Me fazendo ser o que eles querem.

Sei que a intenção vale tanto quanto a ação;
Na verdade talvez valha até mais.
Minhas vontades, meus desejos,
Me prenchem o vazio da existência inútil,
Da existência fútil, da existência.

Se quero mas não faço, traiu a mim mesmo.
Se faço sem querer, também.
Os instintos é que me controlam.

Apenas deixo-me levar, apenas deixo-me.

10 fevereiro 2010

Meu coração é rebelde,
Não pertence a nada nem ninguém,
Sai por aí procurando amores
Pelos cantos e becos.

Meu coração é vira lata,
Revira lixo em busca de emoções e prazeres,
Se deixa levar, mas só por um momento.
Seu lugar é na rua.

Meu coração é hippie,
Não tem lugar fixo, a nada se prende.
Mas é pardal,
Sempre volta ao grande amor.

Meu coração é líquido,
Que evapora no calor
E congela na dor,
Sempre por um momento, só por um momento.

08 fevereiro 2010

Não tenho medo do escuro,
Não tenho medo de falar a verdade, e nem da realidade.
Vale a pena viver ainda?
Quer dizer, de que vale a pena viver se não for pra vencer os
. .[próprios medos?
Evito de subir no alto dum prédio,
Porque se vencer mais esse medo,
É de lá mesmo que me jogo,
E encaro de vez o medo final, o medo da morte.
sem dúvida nenhuma
tenho a maior dúvida sobre o que escrever
é um questão de crer pra ver
e que se não crendo, não há palavra alguma

e pouco me importa se não há palavra
porque ela de nada serve
quando um sentimento verdadeiro ferve
e o que resta é apenas a fatidica lavra

posso e quero provar a você
que essa rima pobre é tanto descaso
quanto rima alguma sem nexo
e o que seria da poesia sem o descaso com a vida?

31 janeiro 2010

As palavras me chegam mansas,
as vezes em desordem,
se misturando com os sentimentos.
Ou na verdade estaria criando-os?

Eu nunca sei, eu nada sei.
Do que posso eu saber?
Só as coloco para fora porque
dentro de mim ninguém consegue ver.

Não sei ao certo se a ordem
agora está certa porque por dentro
sou todo confusão queita,
como diria Pessoa,
sou todo um pouco pessoas distintas,
como diria a confusão.

Na verdade eu nunca sou,
e talvez nunca tenha sido.
Mas me sinto bem assim,
fingindo ser o que nunca serei.

24 janeiro 2010

E se tudo vier a acabar?
O que será da poesia,
se nunca for lida,
se não houver tempo?

Conseguiria ela sobreviver?
Não sei, mas eu não!