30 julho 2011

Medo da Morte

depois de ler "Nova concepção da morte", de Ferreira Gullar

Se a morte vem de dentro
(quando não externa)
perceba que é sempre o tempo
que a pondera.

Ponderar por ele é negar a vida.
Rejeitar a condição
dessa ser para ser vivida,
mesmo que na contra-mão.

Pensar a morte é morrer
aos poucos;
é mentir dizendo a verdade,
é preocupação com insalubridade,
é afeição ao podre da idade.

Por ser eterno
o poeta teme a morte.

28 julho 2011

realidade faca

a realidade rua
a realidade mato
a realidade nua
a realidade fato

a realidade faca
que enfia
no peito
a dor, a fome, a miséria
o leite seco
a teta murcha
o choro de fome
que nem cara feia faz parar

a dor de ser mãe sem amamentar

23 julho 2011

Poeta pecador

Inspirado em lado errado
o poeta se assustou ao ver
seu corpo todo paralisado.

A poesia não tem religião
não é preciso crer
para se ter inspiração.

Tudo de mal e pior
veio em sua cabeça confusa.
Cena nojentas sem cor
tornaram sua obra difusa.

16 julho 2011

Do que ouvi ontem...

Ouvi dizer ontem
que paixão
é o Pai no chão.

Ouvi também
que sacrifício
é um sacro ofício .

Ouvi ainda
que amar
é juntar,
de maneira profunda,
uma alma
n'outra.

15 julho 2011

saudade hispânico-brasileira

desejos
diez lejos

la distancia no perdona
nadie

quanto perto
sin lejos

ainda mais
deseos

amar de verdade

amar de verdade é
leve
sutil
sereno

a pessoa se sente
leve
sutil
sereno

o mundo fica
leve
sutil
sereno

mesmo que se repita mil vezes
leve
sutil
sereno

quem ama continua
leve
sutil
sereno

porque amar de verdade é ler
leve
sutil
sereno

se apaixonando por cada palavra
sempre

14 julho 2011

Eu quero ver!

se é mesmo livre
voe
se desloque sem atrito

ah, eu quero ver!
quero ver quem vai se mexer
sem pagar imposto
prejuízo

perca o juízo
voe
se desloque soltando faísca

quem é que vai quebrar
a catraca
a contenção
correr na contra mão

quem é que vai subir ladeira
abaixo
sem pensar e nem querer
ter razão

quem é que vai dançar
ao som do silêncio
sem se perguntar
qualquer coisa pronta

faça agora
voe
se desloque de cabeça pra baixo

ao contrário
ache
o que sempre
esteve lá

ah, eu quero ver!
quem vai amar sem sem ser amado
atordoado
sem se perguntar

08 julho 2011

ardefogocinza

juro que eu não sei
o que acontece
mas há algo em você
que quando olho
me aquece

se chego perto
logo queimo
e cuspo cinza de silêncio
e se me afasto
como teimo
engulo o fogo que me arde
ao te ver longe
sem poder tocar

não é amor
mas chego a pensar
que se tão quentes for
logo me entrego
ao que chamam de amar