29 dezembro 2011

mudança

o ano passa e muda
a gente espera e nada
da nossa vida
mudar também

porque quem muda
não é a vida
e nem o ano
e sim a gente

25 dezembro 2011

Papagaiatos

Jesus voltou ao mundo e quis saber
Porque as pessoas não estavam ouvindo seus mestres.
Lhe responderam que nem sempre os mestres
Eram de fato mestres,
E que o que falavam não valia  pena ser ouvido.

Jesus os alertou pra não confundiram:
Papagaios jamais seriam mestres.

17 dezembro 2011

fogo que arde

há dias com febre
já acredito na possibilidade
mesmo que me negue
do sinal derradeiro:
minha elevação da temperatura
nada mais é que desejo ardente de
você (é minha cura)

30 novembro 2011

Pombinha filhote

A pombinha filhote piava, piava e piava. Mexia as asinhas rápido e as vezes parecia até que apontava pra mamãe como dizendo "vem ki, vem ki, vem ki, vem ki, vem ki!". A pombinha filhote devia estar com fome. Mas a mamãe foi firme, nem olhava, ficava lá coçando o corpo com o bico, incorruptível. A pombinha filhote piava em desespero, com seu olhar medroso e sua penugem incompleta. Mas a mamãe nem ligava, nem olhava, fingia que não tava nem aí! Mas de lá não saia, não arredava a pé, e se alguém viesse mexer com a filhotinha, levava bicada. Acho que a pombinha filhote precisava aprender a voar. 

chuva

dia escuro
água caindo
dentro de mim

14 novembro 2011

- nunca ninguém ouvirá duas frases iguais saindo da minha boca

de hoje eu diante prometo e me comprometo a não repetir frases. explico-me:

- uma frase uma vez dita e direcionada a uma pessoa jamais poderá ser repetida, nem para a mesma e nem para outra... assim, mesmo que a essência a ser transmitida seja a mesma, a frase terá que ser outra.

aproveito então pra gastar uma boa frase pra aumentar o grau de dificuldade:

- eu te amo! 

07 novembro 2011

me escondo?

dizem que me escondo
e eu digo
                                           
                                         como?
                                         se sou poeta?


tudo que eu sinto
sai de mim
em forma de letra agrupada
formando palavra

tudo eu que sinto
escrevo
e você lê
não há nada pra esconder

03 novembro 2011

#ocupa

vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!vamosletras!ocupemoespaço!

27 outubro 2011

tem

derretem
nos climas quentes
eles
derretem
no clima quente
se submetem
mas nunca
isso nunca
nunca
completem

24 outubro 2011

Artistas do ócio

Ócio,
que grande responsabilidade trazes!
Porque não importuna outro?

Ou o problema sou eu que como artista
não aceito o ócio como outra coisa se não
a possibilidade de criar algo eterno?

Doce ilusão!
Ajo como se o mundo pudesse
ser mudado por poetas vadios...

22 outubro 2011

sábado a noite

sábados a noite são tristes

triste para quem festeja e para quem não
triste para quem tem companhia e para quem não

a festa acaba
a companhia morre
os sábados a noite ficam

ficam porque persistem
em jogar na cara
que a irresponsabilidade do domingo
                                                              é terrível

tudo o que queríamos
era ter que acordar cedo domingo
e ter a desculpa pra sábado
                                               ser um dia qualquer
sem a responsibalidade
de se ser feliz

estaríamos aliviados

não mais precisaríamos nos enganar
sorrindo como que se o brinde
compensasse o trabalho da semana

eliminaríamos o peso
do copo
que mais do que cerveja
tem que ter esperança
de dias melhores
de dias que mereçam ser lembrados

o outro seria menos responsável
de nos trazer algum prazerzinho passageiro
compulsório
compulsório
coclppakdpj

ah! se pudéssemos trabalhar de domingo
nem que fosse meio período
como a vida seria mais fácil
mais leve
os sábados seriam lindos
e teríamos a quem culpar

podíamos sair as ruas em revolta
contra os patrões exploradores

quem sabe usaríamos os sábados pra isso
dando significado pra esse dia tão
vão

sábado é dia do descanso de Deus
e da aflição dos homens
e mulheres

os sábados são sempre solitários
mesmo que se estendam em intermináveis festas
que só acabam nos domingos

frenéticos

sábados
               frenéticos

será doce o dia
em que os dias
não mais serão dia
apenas momentos
que passam
sem ter que ter um dia de ócio amanhã

18 outubro 2011

~~~~~

             o
palavras
                            levou
                                               minhas 
            amor
                                    de  
                vento

06 outubro 2011

formas da forma

formal
é o que tem forma
informação
o que informa
e torna
informado.
será
que a fôrma
te forma
e informa
ou só
deixa
em formação
um ser
mal informado?

informado é aquele que tá dentro da fôrma
informado é aquele que tá dentro da forma
boba de ver o mundo.

01 outubro 2011

mono momento

monumento
erguido em um momento
(pra satisfazer)

um ego estranho ego
maior que um super ego
(que não se satisfaz)

enorme pra compensar
a pequeneza do homem lá
que manda em um momento
erguerem um monumento
(pra lhe satisfazer)

28 setembro 2011

27 setembro 2011

meus desejos

andantes
meus desejos
deslocantes
sabiamente os deixo passar
delirantes
meus desejos
sufocantes
sabiamente os deixo passar
errantes
meus desejos
gritantes
sabiamente os deixo passar
chocantes
meus desejos
constantes
sabiamente me perseguem

20 setembro 2011

falam por mim

assombrosa inspiração
mais parece assombração
entra quente sai fervendo
deixa espuma
de paixão

16 setembro 2011

sobre suposições e amor

eu deveria supor
que o encontro de mim
com a dor
viria antes do eu
com o amor

mas a lógica se inverte
na dualidade da vida

06 setembro 2011

imposição de capacidades (im)possíveis

tenho em mim todas as possibilidade
fundadas em todas as capacidades
que me dizem ter

dentro disso
se mudam o que dizem
me mudo capaz
e de capaz me faço
possível a tudo
(inclusive ao impossível)

diante das possibilidade
que me encaro como ter
são mais possíveis as que me dizem
e menos capaz me torno
ao que me imagino
construído
pelo que dizem

a confusão vem do impossível
que é capaz
de acontecer

não nego em dizer
que o impossível me parece
bem possível
se me assim alguém me dizer

16 agosto 2011

desejos corpos

desejo corpos
vários
nus

(sem personalidade)

desejo-os vestidos
com retalhos

desejo um corpo
estranho

15 agosto 2011

cri ação

criação
racional
é mais ação

não-racional
é real
criação

ação com cri
ação concreta

criar é expurgar
a vida

08 agosto 2011

contra (pul)mão

se imaginou fumando os próprios pulmões que se consumiam em cada trago soltando uma leve fumaça acinzentada sólida espiral deslizante que vagava ocilante pelo ar límpido e fresco de uma cidade suja e febril_ficou sem fôlego ao pensar no ato que estava prestes a se concretizar por sua própria criação consciente: o consumo pela brasa de seus próprios pulmões.

06 agosto 2011

o desafio

o desafio era escrever algo
que ficasse na cabeça de quem lesse
mas que ninguém conseguisse ler
até o final

mas não valia usar repetições
palavras estrangeiras esquisitas
nem frases sem sentido

o desafio propunha ainda
que não acabasse com três pontos
porque assim seria muito fácil

mas não valia não deixar os três
pontos que fossem
na cabeça do pobre leitor

a ultima regra do desafio
era tão simples como um ponto final
declarava que no fim
do texto deveria
haver
algo
que desse sentido a tudo
e não deixasse o leitor
com cara de otário
por ter lido
até o final

02 agosto 2011

Pedaço de Papel

depois de ouvir 'Dinheiro' na voz de Arnaldo Antunes

Dinheiro é feito de papel -
vale mais que o azul do céu
pro poeta que passa fome.

Dinheiro é feito de papel -
vale um pedaço do céu
vendido na igrejinha sem nome.

Pedaço de papel
que compra mel
que compra véu
que compra anel
que compra gel
que compra farnel

Que corrompe coronel!

30 julho 2011

Medo da Morte

depois de ler "Nova concepção da morte", de Ferreira Gullar

Se a morte vem de dentro
(quando não externa)
perceba que é sempre o tempo
que a pondera.

Ponderar por ele é negar a vida.
Rejeitar a condição
dessa ser para ser vivida,
mesmo que na contra-mão.

Pensar a morte é morrer
aos poucos;
é mentir dizendo a verdade,
é preocupação com insalubridade,
é afeição ao podre da idade.

Por ser eterno
o poeta teme a morte.

28 julho 2011

realidade faca

a realidade rua
a realidade mato
a realidade nua
a realidade fato

a realidade faca
que enfia
no peito
a dor, a fome, a miséria
o leite seco
a teta murcha
o choro de fome
que nem cara feia faz parar

a dor de ser mãe sem amamentar

23 julho 2011

Poeta pecador

Inspirado em lado errado
o poeta se assustou ao ver
seu corpo todo paralisado.

A poesia não tem religião
não é preciso crer
para se ter inspiração.

Tudo de mal e pior
veio em sua cabeça confusa.
Cena nojentas sem cor
tornaram sua obra difusa.

16 julho 2011

Do que ouvi ontem...

Ouvi dizer ontem
que paixão
é o Pai no chão.

Ouvi também
que sacrifício
é um sacro ofício .

Ouvi ainda
que amar
é juntar,
de maneira profunda,
uma alma
n'outra.

15 julho 2011

saudade hispânico-brasileira

desejos
diez lejos

la distancia no perdona
nadie

quanto perto
sin lejos

ainda mais
deseos

amar de verdade

amar de verdade é
leve
sutil
sereno

a pessoa se sente
leve
sutil
sereno

o mundo fica
leve
sutil
sereno

mesmo que se repita mil vezes
leve
sutil
sereno

quem ama continua
leve
sutil
sereno

porque amar de verdade é ler
leve
sutil
sereno

se apaixonando por cada palavra
sempre

14 julho 2011

Eu quero ver!

se é mesmo livre
voe
se desloque sem atrito

ah, eu quero ver!
quero ver quem vai se mexer
sem pagar imposto
prejuízo

perca o juízo
voe
se desloque soltando faísca

quem é que vai quebrar
a catraca
a contenção
correr na contra mão

quem é que vai subir ladeira
abaixo
sem pensar e nem querer
ter razão

quem é que vai dançar
ao som do silêncio
sem se perguntar
qualquer coisa pronta

faça agora
voe
se desloque de cabeça pra baixo

ao contrário
ache
o que sempre
esteve lá

ah, eu quero ver!
quem vai amar sem sem ser amado
atordoado
sem se perguntar

08 julho 2011

ardefogocinza

juro que eu não sei
o que acontece
mas há algo em você
que quando olho
me aquece

se chego perto
logo queimo
e cuspo cinza de silêncio
e se me afasto
como teimo
engulo o fogo que me arde
ao te ver longe
sem poder tocar

não é amor
mas chego a pensar
que se tão quentes for
logo me entrego
ao que chamam de amar

30 junho 2011

(c)ego

feliz de ego
por ego
graças ao ego
salve o ego!

sou feliz assim
de ego
pra ego
com ego

cego.

24 junho 2011

er(r)ei

sigo meu caminho
e não serei
por mais triste que pareça
eu apenas
acontecerei

Asas cortadas

Nasceu pra voar
e amar

Mas por voar
duvidaram do seu amor

Cortaram-lhe as asas
problema resolvido

Fica sempre por perto
de quem julga lhe amar

Poucos reparam
que por trás das belas penas
se encontra um olhar
triste

19 junho 2011

16 junho 2011

sobre perus

I

por favor alguém me explique
essa coisa de peru
é mesmo uma ave que a gente come
ou é ave que come a gente
igual urubu?

II

quero mesmo é saber
porque falam tanto de peru
ouvi isso no natal passado
da boca da minha tia bêbada
"eu quero peru!"

III

nesse mundo se dão muitos nomes
pra poucas coisas
enquanto muita coisa diferente
tem o mesmo nome
agora não sei o que peru come
e se devo comer também

10 junho 2011

juntando (p)artes

a gente é junto/a gente é misturado
todos lado a lado
as diferenças se equiparam
e eu fico na sopa, no sonho, na luta
na eterna labuta
de mudar o mundo
de não ficar mudo

a gente é arte/a gente é parte
de um todo
um grande molho
de gente unida agindo
cantando, dançando, brincando
no seco na chuva no céu
aqui ninguém tem véu

09 junho 2011

eus

quero ser negado
quero ser negão
sendo sonegado
sempre de busão

caminho apaixonado
pinta de cuzão
na vida afastado
pura solidão
maluco endinheirado
apenas ilusão

a farsa não perdoa
finos véis


04 junho 2011

palavras ao meu amor

com palavras eu disfarço
a ação do tempo

com palavras eu refaço
o encurtamento

com palavras eu te digo
meu amor
que o que separa
não é espaço
nem tempo
e sim
dor

03 junho 2011

grito

é ruim ter alguém que não concorda
é ruim ter alguém que não se toca
que não se cala
que não cansa
que não se exala
que não se abstém

o silêncio é uma forma de consentimento
é apertar os parafusos do banal
do insano disfarçado de natural
não se cale
não se canse
não se exale
mude, alcance

01 junho 2011

fim.

os ventos que sopram me trazem o fim.aroma

fragância.fim

vida.mundo.arte

fim

serei livre do fado da expressão

29 maio 2011

peso

de qualquer forma ágil
de qualquer forma frágil

sem medo da ação

o peso da vida sobre o esqueleto
corpo franzino desmantelado

pressão da vida diminuta

o mundo não vai mudar
o mundo não muda com ninguém

25 maio 2011

ab34g6h

não me venha falar da sua vida
fale pouca da sua vida fale pouco fale pouco da sua vida
ela não é interessante não é
não me fale de você
nem de seus feitos
eu não tenho certeza se você existe
e sua vida é desinteressante sua vida é
você é desinteressante você é
fale pouco fale pouco fale pouco
apenas e nem isso
o essencial ideal inevitável fatal

24 maio 2011

10 maio 2011

sobre dor 1001

a dor me transforma como raras
mais que a arte
mais que a guerra
mais que a paz

a dor me transforma mais
mas
não vale

com dor
me abstenho da vida
transcendo
ou
sofro apenas

04 maio 2011

01 maio 2011

transform/ação

a mudança é essencial
sem ela não há transformação

pode vir forçada
obrigada
destruindo tudo e todos
essencial

pode vir de bom grado
desejada
destruindo tudo e todos
essencial

a mudança exige pouco
que parece muito: ação

a ação é primordial
é mental
e depois material
a ação é essencial

transforme-se em ação

30 abril 2011

e a Igreja?

não quero da Igreja
só proibição, contra ação
não quero só que seja contra
a violência
a libertinagem
quero que seja a favor da liberdade
quero que seja contra
a televisão
a manipulação
a fome do irmão
a capitalização
dos recursos naturais
essenciais
coletivos e iguais

da Igreja
eu espero mais

23 abril 2011

incertezas

a incerteza
do veto
do voto secreto
do poema concreto
do amor discreto
do falo ereto

a incerteza
de viver

21 abril 2011

20 abril 2011

vem comigo (mente sã)

vem comigo vem
comigo vem
pra mostrar que a palavra desperta
pra você ver que até mesmo liberta
como o Tim atingir o consenso
sem medo eu dizer o que penso

na vida evoluir
não deixar a morte subtrair
ter em mente sempre a sanidade
lucidez é a total liberdade
enfrentar os problemas e crescer
aproveitando o que pode acontecer

mente sã
quem poderá vencer?

04 abril 2011

Ao período pós-reflexivo.

A vida não é mais com amor.
Não julgue-a pela quantidade de dor,
nem pelo saciamento das fomes do corpo e da alma.

Julgue-a pela passividade,
pela leveza,
pelo excesso de segundos que passam
no presente.
Sempre no presente.
Não recuse presentes.
Mergulhe aonde não se pode enxergar o fundo,
profundo.

Tira as lentes e enxergue o mundo,
não como ele é,
mas como seus olhos o vêem.
Sem medo, sem desculpas, sem correr pra trás.
Sem mais.

02 abril 2011

essência individual estética

te procuraria em mil corpos mortos
escondida
cheia de vida
esperando a hora certa pra renascer
provando que a carne é vã
e a beleza
eterna

01 abril 2011

liberdade/verdade

trilhei muitos caminhos
e descobri que a liberdade
você conquista sozinho

não faz mal

não se iluda que todos te amam
pois muitos pensam mal
e por pensarem mal
inteferem, agem mal
te fazem mal

você é mau?
faz mal?
faz diferença?
o que você faz,
faz mal pra quem?

é bem e mal
bom e mau, ruim
bem e ruim
é péssimo
bom e mal
bem e mau
ta tudo ruim
péssimo

viver é péssimo
se for em vão

não fuja da realidade
nem todos te amam
e ninguém resolvera seus problemas

seja mau
mas não faça mal a ninguém
nem a você mesmo

29 março 2011

Não me comam

não confio em carnívoros
eles comem carne
e chupam osso

e eu
sou feito disso
carne
osso
e uma alma quase vegetal

26 março 2011

seres que mamam

seres incompletos
se juntando
seres inconcretos
concretizando
o que chamam
de amor
que não chega
nem perto
do verdadeiro amar
alguém

14 março 2011

o mundo e ele

o mundo tentou muda-lo
amordaça-lo
padroniza-lo

e ele nada

o mundo tentou compra-lo
convence-lo
transforma-lo

e ele nada
e ele

se mudou
se amordaçou
se padronizou
se comprou
se convenceu
e
enfim
se transformou

sozinho

12 março 2011

eu(s)

Sou um amontoado de incertezas. Uma soma ilógica de várias incertezas que se espalham dentro de mim. Sou constituído delas, construído por elas. São como retalhos que, juntos, fazem eu ser quem acho que sou. A comparação com Frankstein é óbvia; também sou todo remendado, de várias pequenas e grandes incertezas. E por ser tão monstruoso, não me importo em ser o que sou; já sou odiado por isso mesmo. Mas a isso prefiro do que aceitar a censura velada da padronização.

03 março 2011

Vim ser

vencer
é um ponto de vista

nem sempre viver
é vitória

as guerras são tolas
os vencedores
perdem
os heróis
morrem
os tolos
vivem
traumatizados
eternamente derrotados

"venci, mesmo que mutilado!"
perdeu, adeus

02 março 2011

Sobre escrever poemas

começar um poema
sem fim
é dar chance ao acaso
de se manifestar
na mente
e mostrar
o quão perturbada
ela é

começar um poema
do fim
é fingir
ser poeta
por saber encaixar
algumas palavras
nos lugares
certos

27 fevereiro 2011

sobre inconsciências

não sei se vale a pena
ter consciência

de tudo
que é
daquilo tudo
que foi

e do que será, então?
terrível (!!!)

a inconsciência acalma
mas uma vez perdida
não volta mais

14 fevereiro 2011

Tudo bem...

se está tudo bem
então
não há problema algum
pra se resolvido
degrau algum
pra ser superado
nada
a ser alcançado

12 fevereiro 2011

Poema de fada trágico

Donzela na torre
no alto a chorar

Príncipe corajoso
logo a escalar

foi 1, foi 2, foi 3
na 4ª queda
ele desistiu

Donzela no alto
chora mais alto

Príncipe desesperado
tem grande idéia

gritou 1, gritou 2, gritou 3
no 4º grito
ele desistiu

Donzela em prantos
se enforca nas tranças

Príncipe chocado
ela ouvi errado

falou 1, 2, 3, 4, 5, 6 vezes
para si:
- Era pra jogar as tranças, pra jogar...

06 fevereiro 2011

nadantes

Andávamos acima do chão, na contra-mão das obrigações sociais, sem se preocupar com os olhares assustados dos transeuntes, com a água da chuva que caia forte na ponta da cabeça, com os cadarços desamarrados arrastando no chão, com nada, quase nadando, em tudo.

01 fevereiro 2011

Sorriu

de uma hora pra outra
sorriu

sorriu sincero
coisa muscular
intra-corpóreo

consideraram deboche
mas era alegria

de estar vivo
presente
consciente
de tudo
do fim

sorriu sincero
coisa muscular
extra-divino

consideraram louco
só escapou por pouco
depois de ficar sério
com os músculos enrijecidos
pelo tempo

sorriu forçado
pra esconder angustias
e medos

consideraram normal
mas era absurdo

hipocrisia contida
num falso sorriso
de boca escancarada

inconsciente
de tudo
do fim

27 janeiro 2011

haikuase

almofada grande
cachorra pequena
as patas pra fora
                         são puro charme

25 janeiro 2011

Rotina de trabalho

segunda:
manhã - cansado
tarde - pesado
noite - desmotivado

terça:
manhã - desmotivado
tarde - cansado
noite - pesado

quarta:
manhã - leve
tarde - desmotivado
noite - cansado

quinta:
manhã - desmoronado
tarde - estufado
noite - cansado

sexta:
manhã - cansado
tarde - vazado
noite - desqualificado

sábado:
libertação

domingo:
culpa

18 janeiro 2011

azeitonas

Sabe, eu gosto muito de azeitona. Como aos montes, pego com a mão no meio da água salgada. Mas vi escrito na embalagem hoje 'azeitonas descaroçadas'. Poxa, que palavra forte! Não precisava ter colocado essa palavra assim, na cara. Fiquei com a sensação de estar comendo algo descaroçado, mutilado. Me senti responsável. Perdi a vontade de comer azeitona...

Epitáfio de um artista

fiz
minha parte
fiz
arte

14 janeiro 2011

07 janeiro 2011

ferido pela chuva no chão

Que diferença faz se os círculos que se formam nas poças d'água surgem de cima ou de baixo? E se todos eles forem um só, só que muito rápido? E se na verdade eles forem o grito desesperado da poça sendo ferida? Ou senão arrotos satisfeitos do gozo de crescer cada vez mais? Será que os pingos da chuva caem do céu ou saem do chão? Não quero me molhar pra ver. Enxergar dói.

04 janeiro 2011

03 janeiro 2011

Medo da morte

depois de ler "Nova concepção da morte", de Ferreira Gullar


Se a morte vem de dentro
(quando não externa)
perceba que é sempre o tempo
que a pondera.


Ponderar por ele é negar a vida.
Rejeitar a condição
dessa ser para ser vivida,
mesmo que na contra-mão.


Pensar a morte é morrer
aos poucos;
é mentir dizendo a verdade,
é preocupação com insalubridade,
é afeição ao podre da idade.


Por ser eterno
o poeta teme a morte.

01 janeiro 2011