20 dezembro 2012

18 dezembro 2012

Ismália 2012

   vi Ismália na parede
na mureta de um segundo andar
       não vi lua no céu
      nem vi lua no mar
mas me vi um pouco Ismália
   com vontade de pular

     nesse meu desvario
longe de um bom pensar
    queria que Deus me desse
as tais asas pra voar
     assim a alma subiria ao céu
e o corpo desceria ao

          [cimento]

16 dezembro 2012

[escrito no muro]

escrito no muro:

ver de verdade

completei assim:

mim de mimtira
ser de sereja
na ponta do existir

15 dezembro 2012

questões pertinentes

se escrevo me inscrevo como provocador de novas possibilidades sensíveis? 

em qual utopia colocamos a cabeça pra dormir?

pra onde vão as poesias quando escapam do topo da cabeça?

que tipo de sensibilidade optamos fingir sentir?

quantas palavras são necessárias para fazer alguém cair no abismo?

há poesia sem deslocamento de percepção?

porque não colocam poesias nos tubos de pasta de dente?

29 novembro 2012

(p)articipantes

soube de um artista que fazia arte só no olhar
como aqueles poetas que fazem poesia só no falar
pessoas que na verdade fazem poesiarte só no existir
e que pra isso não precisam fazer
quase nada

23 novembro 2012

só um poema

um poema
é só um poema
pra nada
nem ninguém

se um poema
for pra algo
e alguém
não é mais um poema
mas uma intenção

a poesia não quer nada
em troca
de nada
a poesia não quer
não tem
a poesia só é

20 novembro 2012

mergulho

tenho escritos muitas coisas
mas tenho preferido esconde-las
do mundo
de mim
porque as coisas dizem tanto
de mim
do mundo
que seria como mergulhar a força
pelo ouvido de cada um

05 novembro 2012

con(com)tato

no  toque,
o choque:

                  P                                                         O
                                                   S              
E                        L                                                                        !
       X                                                           Ã
                                       O

03 novembro 2012

[poética]

poética

a maioria vai pra fora:
pelo que dizem, devemos ir pra dentro.
e se eu ficar no limiar?
no extremo mais extremo
na superfície mais superficial
de mim?
e seu eu ficar entre?
entre o dentro e o fora
o tudo e o nada
eu e o mundo?
me estabeleço no limite do limite.
suspensão ao infinito:

poética

[vibração ação]

vibração
        ação
        ação
                   abrindo
                   o meu
 coração
       ação
       ação

31 outubro 2012

quanto tempo?

quanto tempo se gasta
pra escrever um poema?

quanto tempo se gasta
pra olhar uma árvore?

quanto tempo se gasta
pra pegar na mão?

quanto tempo se gasta
pra respirar o ar?

quanto tempo nos resta
depois dessa frase?

.

29 outubro 2012

(re)aproximação

reaproximação
é uma aproximação
novinha em folha
escrita a lápis
mas (mal) apagada
com possibilidade
de ser reescrita

25 outubro 2012

acabando a bateria

tenho dezporcento de bateria
para escrever um poema qualquer

isso
é um poema realista
em tempo real

tenho noveporcento de bateria
para escrever um poema qualquer

isso
é um reality show
do poeta

tenho oitoporcento de bateria
para escrever um poema qualquer

isso
é uma corrida contra
o tempo/energia

tenho seteporcento de bateria
para escrever um poema qualquer

isso
é uma patifaria
com o leitor

tenho seisporcento de bateria
para escrever um poema qualquer

isso
só não é um poema
com poesia

não tenho mais bateria
para escrever esse poema qualquer

isso é o fim.

15 outubro 2012

era ela

de longe vi
e achei que era ela
não era
não ela
e se fosse
gritar ou correr
em qual direção
estremeci
respirei rápido
e pensei
ando a vendo
em tudo
 

14 outubro 2012

incomunicação

não há
o ato
possibilidade
comunicação
entendido
verdade
fala
encobre
minar
dizer
o que é dito

não me diga

29 setembro 2012

23 setembro 2012

escrevo

escrevo como os humanos de meu tempo
tão sem tempo
de viver
correndo atrás da morte
como se corre para o mar

escrevo como os humanos presos ao tempo
com palavras bobas que impõem limites
como um fim que chega
consequência de um começo
que já foi

escrevo como os animais que pensam
e que se acham tanto mais
aos que de fato só existem
mas que nunca chegam perto
de serem banais

escrevo para ter o que dizer
porque senão me calo
e no silêncio desespero-me
ao sentir a angústia do meu tempo
preso ao tempo de viver

escrevo para superar a morte
existindo em vários tempos
sem nunca ter deixado
de viver
no tempo certo

escrevo para enganar humanos
que se acham como o tempo
mas que passam sem saber
em que momento
dá-se o fim

22 setembro 2012

umidade 2

relativa a umidade
do meu ar
que se abaixa
ante a dor
do não chover

porcentagem
muito pouca
pra viver
acaba sendo
um intenso sofrer

17 setembro 2012

07 agosto 2012

Abandonar

Abandone-me
Deixe-me
Me
Me
Me

Abandone
Deixe

Simplesmente abandone e deixe

Abandone-se
Deixe-se
Se
Se
Se porventura achar necessário

Mas sempre o é

Abandone
Deixe

Simplesmente abandone e deixe
A si mesmo e ao outro
Até descobrir se o que fazes é pouco
Perto do que podes fazer

02 agosto 2012

poema raro da ausência não-sentida

muitos dias se passaram
e ainda outros passarão


fiquei alerta a chegada de qualquer inspiração
ninguém pareceu querer se expressar

ou ousou me usar

dias a fio esperei sem esperar
fingi não acontecer a falta de acontecimento em mim

não chorei
porque não sei mais chorar

fico com a dúvida se nesse tempo existi
ou se apenas vivi/morri

porque viver é morrer

aconteço muito devagar agora para poder deixar sair qualquer coisa

descumpri minha promessa de escrever 
sem confusão

paro antes de alguma desilusão 

30 junho 2012

a escolha do traço

subindo um pouco se vê
a infinidade de caminhos
finitos em comum
convergindo ao que há
e ao que é

19 junho 2012

do que não tem fim

em alguns momentos
olho sem ver
respiro sem ar
flutuo

começo a duvidar das horas que passam
e passam
e passam
e paz

pairo no tempo/espaço
colapso o infinito

ca
da

lu
la
ga
nha
vi
da

somos tudo e todos
nada e ninguém

mas o olho volta pro lugar
a boca engole seco
pulmão
enche de ar

volto a vida de luz irreal
me embalo em auto-entretenimento
deixo que a vida passe
até acabar

18 junho 2012

aos pequenos acontecimentos

são pequenas coisas
pequeninas coisas
que acontecem
sem dizer
porque
são essas coisas
bobas e pequenas
que nos ensinam
a viver

13 junho 2012

pró-mão

parei
respirei
reparei
era contra-mão

e eu fui contra
a mão que já era
mas que não admitia
não percebia
não parava
reparava

virei
mudei
fui na contra
contra-mão

e vi que algo
flui
calmo e manso
sem nada contra
em tudo
pró

12 junho 2012

10 junho 2012

do tempo que parece areia em mãos relaxadas

no momento que te prendi
te perdi
te vi ali
saindo pela porta
indo embora
e eu carregado
pesado
da posse de ti
com medo
insegurança
um covarde disfarçado
revoltado
bravo
inculcado
com a leveza da moça
que ia andando
amando
a tudo e a todos
a vida e a morte
a mim e o caos
a certeza e o fato
de tudo ser incerto

06 junho 2012

aranhamente

De tempos em tempos olhavam pra cima e se incomodavam com a aranha gigante que pairava sobre eles. Ela, estaticamente cruel e medonha, sugava toda e qualquer possibilidade de transformação real. Mandaram algumas cores em forma de luz até ela, talvez na esperança de conquista-lá pela felicidade, ou de combate-la com  amorosidade. Conseguiam e comemoravam orgulhosos até olharem pra cima de novo, e vê-la lá, cruelmente medonha e estática. Mas não perdiam a esperança. Alias, no caso deles, não perdiam as esperanças, no plural mesmo. Tinha várias: de que a aranha saísse de cima e deixasse a luz do sol penetrar em suas cabeças confusas, de que eles saíssem de baixo e enxergassem a luz do sol penetrar em seus olhos fracos e ainda de que ela explodisse em raios de de luzes amarelos, azuis e brancos. Talvez sejam mais sonhos do que esperanças. O fato é que a aranha continuava ali, medonhamente estática e cruel. 

02 junho 2012

fim

desde que cheguei ao fim
nada mais restou pra atrapalhar
mas o fim pareceu tão assim
tão bobo enfim
um fim fora de seu lugar

mas é claro que esse fim
por ser tão simples assim
é o fim que procurei
desde que comecei
a te encontrar

será esse o nosso fim?
procurar pra nunca achar?
não teremos outro jeito
algo de efeito
que venha nos salvar?

mas se sou feliz assim
com este estranho fim
não há nada pra mudar
chegar, buscar ou alcançar
o topo está aqui

o fim é um não-lugar

30 maio 2012

canção do agora

algo muito interessante
deve se passar
na cabeça da pessoa que não
percebe o pássaro cantar

28 maio 2012

um não-poema não-útil

fui caminhar debaixo de sol
a passos lentos
bem pisados
com ar bem respirado

abri meu coração
pra atrair cachorros, pássaros, gatos...
(os animais urbanos da minha época)

um pássaro se fingiu de gordo
(acho que pra assustar)
e veio conversar comigo
talvez estivesse um pouco incomodado
por eu estar sentado
ali, tão perto

ele voou
(se demostrando imensamente mais livre)
e pousou no fio com seu amigo
de lá me olharam com paciência
talvez já entendam as limitações humanas

o cachorro me viu de longe
passou fingindo que não queria nada
e quando tava de costas veio me cheirar
discretamente
com o focinho todo esticado

quando olhei
ele também me olhou
e saiu andando, satisfeito
atrás do Ceará do carreto

o gato tava todo encolhido
parecia que tinha sumido
o pescoço
com tanta desconfiança
tive que parar e convence-lo
que só queria ser amigo

mas fui amigo de longe
pra poder continuar respirando
o ar bem respirado
(tenho alergia aos pelos felinos)

esqueci de reparar nos insetos...

22 maio 2012

poesia do arroz da minha geração

vivo numa estranha
geração

as palavras belas são cafonas
os poetas sujos bonitões
a rima pobre enriquecida
e o amor...

bem,
o amor não sai de moda nunca
mas muda tanto de significado
que já não ouso chama-lo assim

21 maio 2012

agora ou nunca

tentou aproveitar o presente
usando o passado
e garantindo o futuro

falhou

o passado virou dor
e o futuro afundou
na lástima de ter perdido
o presente

17 maio 2012

palavras que vão além de palavras

sensações
valem mais do que
palavras

palavras
provocam sensações
que valem mais do que
palavras
provocam sensações
que valem mais do que
palavras
provocam sensações
que valem mais do que
palavras
provocam sensações
que valem mais do que
palavras

palavras
valem mais do que
sensações

15 maio 2012

Momento

O alto som de fundo sumia na voz suave, nada mais importava.

Olhava de canto de olho
a sombra
es
tra

gi
ca
men
te
posicionada.

Fazia o rosto não ser mais
um rosto,
mas um presente,
uma luz,
a própria beleza
pintada em claras cores
no ar.

O cabelo insistia em cair
e esconder pequenas partes
do sorriso sincero.

O movimento dos músculos, quase discretos, faziam o mundo parar.

Flores crescendo no peito,
alguns segundos
que durarão por toda
eternidade.

12 maio 2012

chuva de verão

I
refresco gelado
do dia embaçado
pelo calor

II
derreter em águas frias
do acumulado
quente sabor

III
apogeu sublime
da não-ação total
do amor

27 abril 2012

Ah, vamos ser sinceros!

Chega de poesia ruim,
de palavra bonita, manjada, sem sentido.
Chega de cópia indecente,
de cópia inocente e de cópia inconsciente.
Chega,
de estética sem ética
e ética sem métrica
e métrica sem estética.
Chega de falar bobagens rimando,
de escrever cantando.
Chega de falar chega pra provar a si mesmo uma real mudança.
Chega de ser poeta,
de ser punheta, de gozo mal contado.
Chega.

25 abril 2012

o ruim de mim

se deixar que o ruim se vá
ficarás menor
incompleto
te faltarás
pedaços

mas se transformar
trans for mar
acrescentará
multiplicará
dará
mais de si a si mesmo

18 abril 2012

Nada a escrever

Que grande desafio escrever sobre nada.

Seria escrever um ato anti-nada?
Ou o nada escrito é nada também?
Nada sem artigo difere de o nada?
Não é o nada que resta depois do amém?

E se depois da vida nada existir?
Poderia ter nada dentro do tudo?
Nada resta depois de um ruir?
É o nada que passa no meio do tubo?

Só sei que nem sobre nada sei.

16 abril 2012

Dos homens que vi

Vi os homens seguros dos bens que carregavam,
mas os percebi inseguros de si mesmos.

Vi os homens cheios, pesados, carregados,
mas os percebi vazios em si mesmos.

Vi os homens correndo pra todos os lados, 
mas os percebi sem rumo ou direção. 

Vi os homens possuindo e acumulando,
mas os percebi cada vez mais pobres.

Vi os homens lutando por espaço e poder,
mas os percebi decompondo na terra.

Vi os homens firmemente crentes na descrença,
mas os percebi com fé em algo eterno. 

03 abril 2012

saindo do buraco

suba
coma alguns frutos e
espere a árvore crescer
plante uma semente
não tenho pressa de sair
se cair em um buraco

02 abril 2012

22 março 2012

cara digital

sou um cara digital
o tal

tudo acontece
em tempo real

sem tempo a perder
sem distância a sofrer

conectado
a tudo e todos

dono do mundo
(ó que profundo)

sou um cara digital
banal

19 março 2012

escrever em gratidão

escrevo
pra me puxar pro agora
em admiração a alguns
a vida
a leveza
a delicadeza de poucos
para todos
escrevo

18 março 2012

sobre intoxicação

alimentos degradantes em todos os níveis; não apenas comida industrializadas faz mal, mas todas as coisas industrializadas fazem mal; coisas artificiais, não humanas, não reais, alimento ruim para corpo, mente e alma; intoxicantes.

16 março 2012

Sentidos poéticos

Posso escrever sobre o que sei ou sinto,
mas não terá valor.
A poesia não é acumulação.
Pra ela pouco importa seus amores, saberes, dores...
Pouco importa a sua medíocre condição humana,
que insiste em se considerar importante.
Não importa nada que esteja de acordo
com o que você acha que é.
A poesia se importa em ver,
enxergar, olhar.
Estar atento ao redor, rodear, observar.
E depois ser canal do olho que vê,
da alma que sente,
do todo que quer falar pelo poeta.
A mão só segue o fluxo da expressão,
das coisas em observação.
Não posso escrever,
o que vejo escreve por mim.

13 março 2012

12 março 2012

o drama da falsa vida

eu sei que a vontade é grande
e que o mundo conspira
para tal

mas tenha calma
esteja consciente
escolha, de repente,
o que sentir ser melhor

a vida não é drama
como nas novelas atuais
a vida é apenas
a sua vida
a nossa vida
a mesmo vida de sempre
do primeiro ser humano
que viveu sem atuar

não caia na armadilha
de se auto-dramatizar
não há personagem que valha a pena
assumir como papel perene

cada um real é mais
que uma invenção
dramatúrgica

08 março 2012

Do tesouro que recebemos

Sonhei que recebi um tesouro em forma de algo que lembrava uma flor. Pensei que deveria esperar a hora certa de usá-lo para ajudar o mundo, os homens, os animais, as plantas, os seres. Para guardar enterrei no fundo do fundo da terra do meu quintal, com total segurança. Quando chegou a hora, chamei a todos para verem o tesouro prestes a ser desenterrado que salvaria todos nós da destruição total. Todos me olhavam esperançosos. Quando terminei de desenterrar, não havia tesouro algum. O tesouro (aquele que parecia uma flor) estava podre, tinha decomposto em baixo da terra por todo aquele tempo. O sonho acabou antes de todos se olharem confusos. Percebi, depois de acordado, que deveria ter cuidado do tesouro como uma flor, ao invés de tê-lo escondido. Percebi ainda que deveria colocar a "flor" num lugar em que ela embelezasse o mundo. Percebi, por fim, que quando recebemos algum tesouro, não podemos guarda-lo para esperar a melhor hora de usar, mas sim usar todo dia, em prol das pessoas que vivem ao nosso lado, fazendo do nosso pequeno mundo um lugar melhor. Resolvi chamar esse tesouro de amor. 

06 março 2012

01 março 2012

poetas caídos

o maior perigo de um poeta
é cair no medo
de errar

o melhor perigo de um poeta
é cair no erro
de arriscar

o menor perigo de um poeta
é cair no acerto
de rimar

o pior perigo de um poeta
é cair
e não se levantar

28 fevereiro 2012

planos de vida

quando percebeu
estava fechado
nas suas próprias convicções
fechado
no que achou ser a única verdade
válida

limitou o mundo infinito
na finitude de sua cabeça pós-moderna internética
copiou alguns ídolos-imagens
acreditou em algumas mentiras dramatúrgicas
e
ao invés de voar
cavou um buraco bem fundo
pra se enfiar

26 fevereiro 2012

herói

o povo cego constrói a imagem do imbecil herói
mal sabem os pobres que o heroísmo corrói 

14 janeiro 2012

humanodrama 1

na angustia de viver no limiar da vida e da morte.
escapar do fim? nem com sorte!
procurando um sentido em coisas prontas.
fabricando ilusões pra comer com nutella.
acreditando em qualquer verdade mesmo na mais tenra idade.
capengando num milésimo universal.
se achando o tal mas pouco diferindo de um animal.
nasce, vive, morre... essa coisa toda um pouco banal.
usando da merda pra fazer alimento.
comendo o lixo que o diabo reciclou.
tomando o vinho que o cara derramou.
pouco tempo de prazer/dor, alegria/tristeza.
suficientemente justificável em si.
humanodrama, graças a deus, sim sinhô.

11 janeiro 2012

gaiato

eu quero tato

não me venham com fato
celibato
carrapato
candidato
carbonato
ou qualquer barato

eu quero ato
com tato
e anonimato